domingo, 20 de março de 2011

Caso Maísla: Osvaldo Pereira vai a júri popular na próxima quinta

Por Paulo de Sousa, de O Poti/Diário de Natal

Dentro de quatro dias acontecerá um dos julgamentos mais aguardados pela população natalense dos últimos tempos. Na próxima quinta-feira, o ambulante Osvaldo Pereira Aguiar, 56 anos, sentará no banco dos réus do tribunal do Fórum Miguel Seabra Fagundes, em Lagoa Nova, para ser julgado pelo assassinato da estudante Maísla Mariano de Moura Santos, 11, ocorrido em 12 de maio de 2009.
Ele está sendo acusado de raptar a criança no bairro de Jardim Lola, quando ela voltava para casa, levá-la até a sua casa no bairro de Igapó, estuprado-a, assassinado-a a facadas, esquartejado o corpo e escondido o cadáver em diferentes terrenos baldios próximos de onde morava. Esse crime brutal teria sido motivado por vingança contra a mãe da garota, Marisa Mariano, que tinha uma rixa com o acusado.
Maísla Mariano desapareceu no bairro de Jardim Lola, em São Gonçalo do Amarante, região metropolitana de Natal, por volta do meio-dia. Ela tinha ido deixar o almoço do pai, o feirante Nerivan dos Santos, que trabalha em uma banca na Avenida Tomaz Landim, próxima ao complexo viário da Zona Norte, e retornava para casa. Na última vez em que foi vista, a menina tinha passado em frente ao posto de saúde do bairro empurrando sua bicicleta, que estava com a corrente quebrada, e carregando uma sacola com produtos descartáveis. Ela iria ter uma festa de aniversário quatro dias depois.
Segundo as investigações conduzidas pela delegada Adriana Shirley, titular da Delegacia Especializada de Defesa da Criança e do Adolescente (DCA), na madrugada do dia seguinte ao desaparecimento, a bicicleta da garota foi encontrada por policiais na Av. Tomaz Landim, em Igapó. Perto da bicicleta estava um catador de lixo. A polícia chamou os pais da criança e eles reconheceram o objeto como sendo da menina. Em seguida, a mãe indicou a casa de Osvaldo Aguiar, próxima de onde a bicicleta foi encontrada, dizendo que ele era suspeito do crime. Tanto Osvaldo quanto o catador foram levados para a delegacia de plantão da Zona Norte e, depois, liberados pelo delegado Marcos Geriz por falta de provas.
No dia seguinte, por volta das 10h30, partes do corpo da menina foram encontrados em um terreno baldio, dentro de um saco plástico, na Rua Dona Izabel de Brito Lima, em Igapó. O local ficava a cerca de 100 metros da casa de Osvaldo Aguiar. Junto ao objeto, também estavam três peças de roupa e um lenço. A população invadiu, então, a casa dele e a reviraram. Ele, porém, tinha fugido. Já no dia 14, em um outro terreno, mais três sacos foram achados, contendo o restante do corpo da menina. Ainda nesse dia, o acusado foi detido pela polícia.
Provas
A delegada Adriana Shirley afirma que o indiciamento de Osvaldo Aguiar, ocorrido em 15 de junho de 2009, se baseou nas provas levantadas contra o acusado. "Sobretudo as provas técnicas. Mas as provas testemunhais foram robustas em mostrar o perfil de pedófilo do acusado e revelar que ele tinha jurado que faria um grande mal à mãe da vítima".
Dentre as provas periciais, a delegada destaca algumas contundentes. Segundo ela, foram encontradas no colchão de Osvaldo várias marcas de perfuração de facas. Parte do tecido desse objeto foi cortado, assim como parte da espuma. As sacolas onde foram encontrados os corpos são do mesmo tipo encontradas na casa do acusado. Um fragmento de uma das sacolas foi encontrado dentro do colchão dele. Duas bermudas e uma toalha de rosto que estavam ao lado do primeiro saco encontrado no terreno baldio foram reconhecidas pela mulher que lavava a roupa do ambulante.
Adriana Shirley ressalta que, apesar do exame feito com o material colhido na casa de Osvaldo não ter sido concluso para sangue da Maísla, o simples uso da substância luminol no local revelou que havia sangue humano. "O luminol deu positivo desde a entrada da casa, bem como pelo quarto e nas paredes do banheiro. Essa substância pode reagir ainda com suco de beterraba, mas aí ele teria que ter lavado a casa toda com esse suco".
Ela lembra que a perícia foi feita dias depois do assassinato e também após a população ter invadido e destruído o quarto da vila onde morava o acusado. "O legista revelou que a menina deve ter sido morta 32 horas antes de acharmos os sacos com o corpo. Ele teve muito tempo para lavar a casa toda".
Sobre o fato de ninguém ter visto o acusado com a menina no dia em que ela desapareceu e não haver testemunhas oculares do assassinato, a delegada alega que a região onde Osvaldo mora e no suposto trajeto percorrido pelos dois, no horário em que ela sumiu, costuma não ter pessoas circulando. Ele pode ter se aproveitado disso e do fato de que conhecia a menina. Como ela estava com a bicicleta quebrada, ele pode ter se oferecido para consertar".

Família se prepara para "reviver" crime
O sentimento dos pais e familiares da menina Maísla Mariano, após quase dois anos do assassinato cruel, é de tristeza e indignação nos momentos que antecedem o julgamento do principal acusado do crime, Osvaldo Pereira. "A nossa vida mudou da água para o vinho, muita tristeza e a saudade que aumenta principalmente nesses dias de angústia que vivemos antes do julgamento, onde vamos relembrar a tragédia", afirmou Marisa Mariano, mãe de Maísla.
O pai de Maísla, Nerivan Santos, com poucas palavras também relatou os momentos de dor e vazio sem a presença da filha. "Desde o crime, eu tenho tomado vários remédios controlados e não consigo mais viver momentos de alegria, além de chorar várias vezes que lembro dela", contou o pai.
Na casa onde residia Maísla, em São Gonçalo do Amarante, a presença da criança ainda pode ser notada em várias fotos no álbum guardado na gaveta da estante e em banners que pedem justiça.
Durante a entrevista ao Diário de Natal, Marisa repetiu diversas vezes a certeza de que Osvaldo Pereira é o autor do crime hediondo. "Eu tenho plena certeza de que ele matou minha filha, pois ele me jurou que eu choraria lágrimas de sangue, após discutirmos na igreja e ter dito que se sentiu humilhado e prometeu vingança", afirmou a mãe de Maísla.
Na época que antecedeu o crime, Osvaldo Pereira queria ser diácono da Igreja Adventista, porém Marisa teria sido contra por suspeitas de que Osvaldo teria cometidos atos ilícitos, incluindo pedofilia.
"Ele já tinha passagens pela polícia e seria capaz de fazer isso com a minha filha por vingança", disse Marisa.
Sonho interrompido
Os 11 anos de vida da menina Maísla Mariano foram marcados por dedicação aos estudos e de convivência agradável com os pais, a irmã mais nova e os momentos religiosos. Emocionada, a mãe contou que, por várias vezes, Maísla teria perguntado sobre como poderia fazer uma faculdade. "Ela sempre me perguntou como fazia para entrar na faculdade e disse que tinha o desejo de no futuro ser médica. Maísla nunca queria faltar aula e sempre tirava boas notas na escola", disse a mãe.
Em casa, Maísla vivia o cotidiano natural de uma criança, com brincadeiras e obediência aos pais. "Nunca tivemos problema dela desobedecer, não deixávamos ela sair de casa sozinha, nem ficar na rua até tarde. Sempre fomos juntas para a igreja e nunca recebi qualquer reclamação dos professores, nem vizinhos sobre minha filha".

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